By Leticia (Luthy) Sena
Polêmica! Polêmica!
Polêmica!
Depois
de muito ouvir falar, resolvi assistir o bendito (ou maldito) 365
dias ou 365 dni. Produção original da Netflix,
trata-se da adaptação cinematográfica da trilogia de livros de autoria da
cosmetóloga polonesa Blanka Lipinska. O primeiro livro foi lançado em 2018
e ganhou mais duas publicações de sequência.
Bem, considerando a
sinopse do enredo disponível na descrição do filme na plataforma de streaming,
a gente espera um filme ruim (eu como severa crítica do gênero hot tanto na
literatura quanto no cinema, consegui ficar espantada com o quanto essa
produção conseguiu ser pior do que o que eu esperava), mas foi tão comentado e
passou tantas semanas entre os 10 mais assistidos na Netflix que eu precisava
descobrir qual era a desse filme.
Não vou entrar nos
méritos do meu desgosto pelo gênero hot, basta dar uma olhada nas milhões de
pesquisas que falam dos prejuízos sofridos por consumidores de pornografia e
ter o mínimo de bom senso para perceber que o gênero é apenas mais uma
tentativa de vender esse mesmo tipo de produto, porém com uma roupagem adaptada
ao que nossa sociedade espera do público feminino. Na realidade, apenas mais
uma forma que o capitalismo encontrou de fazer da mulher uma consumidora de
suas próprias agressões e ainda convencê-la de que com essa atitude ela é muito
moderna, livre e desconstruída por fazer exatamente aquilo que os homens foram
culturalmente ensinados a esperar de nós.
Mas vamos ao filme em
si.
Massimo é um mafioso
italiano que viu uma moça minutos antes de uma experiência de quase morte, teve
uma alucinação com ela durante o momento da quase morte e passou os cinco anos
seguintes de sua vida procurando reorganizar a riqueza da família mafiosa e
encontrar a pobre coitada que até então, nem sabia que o maluco existia. Quando finalmente a encontra, sequestra a moça e declara que ela tem 365 dias para se apaixonar por ele, se ao final desse prazo ela continuasse indiferente aos sentimentos do fortão ele a libertaria para que voltasse à própria vida. Daí inclusive vem o título dessa emocionante (SQN) história.
Primeira coisa que não entendi, o pai do Massimo que morreu
no começo do filme estava negociando com um traficante de pessoas (de mulheres
mais especificamente), ele se nega a fazer negócio com o traficante, fala mal
do rapaz na cara do filho, mas lembra que o contato pode ser útil para os
negócios. Oi? É isso mesmo?
Depois o próprio Massimo mata um familiar por entrar no mesmo
ramo.
E a minha única angústia enquanto assistia era: existe um
filme onde o personagem principal pode ter relação com o tráfico e comercialização
de mulheres e tem gente (MULHER) curtindo isso????
A protagonista, Laura, inicialmente passa a impressão de ser
uma mulher forte e bem resolvida (pelo menos profissionalmente), até mostrarem
a sua vida pessoal. Em um relacionamento com um cara babaca e que não se
importa nem um pouco com ela. Não que o traficante pareça se importar, na
verdade, até os 46 minutos de filme, a impressão que se tem é que ele quer uma
boneca que o satisfaça sexualmente, mas a produção dá a entender que se o cara
for rico, musculoso e performático no sexo ele tem todo um charme em ser babaca
que o outro inútil com quem ela namora no começo não tem. E tá tudo bem sair
com caras babacas, afinal, homens são assim mesmo. (SQN! PQP!)
Bom, no auge dos 13 minutos de filme, bora mostrar cenas de
sexo, afinal é um filme hot.
O cara tá num jatinho particular, com mais dois homens, além
de piloto e co-piloto, mas tá ok fechar uma simples cortina e levar a única
mulher em cena a praticar sexo oral nele? (percebam que escrevi levar a moça a
fazer sexo oral, porque na realidade a cena não tem muito pé nem cabeça, é bem
o clichê do pornô, eles se olham e de repente, sem nenhum diálogo ou aviso
prévio, a moça está com a boca no órgão dele.) E o meu enjoo em relação à essa
cena é maior, pois é bem nos moldes do pornô tradicional, onde o cara quase
sufoca a moça com o pênis (naquele nível que você percebe os olhos da atriz
lacrimejando), e quando termina a moça fecha a porta e SORRI! GENTE COMO ASSIM?
Primeiramente ele é o maldito empregador dela (o jatinho é particular), segundo
que eles não trocam uma palavra sequer, até se ele quisesse um chá teria que
pedir pra ela, mas aparentemente um boquete não? É nem vou entrar no mérito
óbvio que do jeito que a coisa foi feita, apenas ele teve prazer, mas enfim...
Bom, Massimo sequestra Laura e ela tenta fugir DUAS vezes (em
uma delas vê ele matando uma pessoa, na segunda ela tem ajuda negada quando
dois policiais de rua percebem quem é o seu sequestrador). Mas depois de APENAS
essas duas tentativas ela simplesmente desiste, é isso? Quando consegue um
telefone, liga para a mãe e diz que conseguiu uma proposta de emprego na Sicília,
e é só isso mesmo? Vamos lá ter um relacionamento com um assassino, maníaco,
potencialmente violento e claramente perigoso? Por qual motivo, alguém me
explique pelo amor de Zeus? E tem mulher falando bem do filme e dos
protagonistas? Ah por favor...
Isso além dos mil avisos de: “estou acostumado a tomar o que
quero a força. Não me provoque!”. Como é que é moço?
As únicas coisas que eu conseguia pensar a medida em que o
filme se desenrolava era que, primeiro, ou a Laura é muito burra por provocar
tanto o maluco que a sequestrou, ou tem um plano de fuga escondido na caixola. E
que se fosse na vida real, ela já teria sido estuprada e morta há muito tempo,
não daria nem 10 minutos de filme.
O que continuo questionando é o posicionamento de muitas
mulheres diante desse filme absurdo.
Pelo menos durante a primeira hora de filme, TODAS as cenas
de sexo envolvendo Massimo poderiam ter sido roteirizadas por qualquer produtor
de pornô barato. E Laura como boa moça que é, mesmo morando com o namorado
babaca do começo do filme não faz sexo com absolutamente NINGUÉM além de Massimo.
Bom, depois da primeira vez com Massimo tenha paciência para
muitas cenas de sexo performático, daqueles com posições absurdas e
provavelmente desconfortáveis, ameaças de morte dirigidas à Laura, péssimas
atuações, inclusive durante as cenas de sexo e um final previsível, sem graça e
que como tudo nesse filme nos deixa questionando sanidade mental da
protagonista, afinal é impossível definir se ela é mentalmente instável, se é
apenas uma menina mimada impressionada com a riqueza do mafioso, ou se (como já
vi alegarem em muitas postagens) ela desenvolveu síndrome de Estocolmo, e se a
intenção era essa, o produto finalizado passou bem longe do pretendido.
Além do enredo fraco, incômodo e indigno em muitos sentidos,
o filme não deixa claro se pretende discutir a problemática ou romantizar os
muitos tipos de violência apresentados, e embora eu tenha críticas ferrenhas ao
gênero hot, (não apenas pela forma como apresenta sexo, mas por normalmente
girar em torno de histórias ruins como a de 365 dias), acredito que a pior
parte é mostrar tudo isso sob uma ótica que pretende ser romântica.
No mundo em que vivemos e com a posição que as mulheres ainda
ocupam na nossa sociedade e na nossa cultura, apenas vejo prejuízos, em
produzir e distribuir obras assim. É meio injusto vender esse tipo de conteúdo
e esperar que as mulheres que o consomem consigam respeito, saúde, honestidade
e igualdade em seus relacionamentos. Se eu pudesse dar mil deslikes nesse filme
da Netflix, sem dúvidas, teria feito.
A realidade é que o único momento em que consegui sentir qualquer tipo de prazer com esse filme foi quando chegou ao fim e isso ainda foi roubado de mim com a perspectiva da sequência dessa história que nem de obra dá pra chamar.
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